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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Para o Arroio de Cadeirinha.

Diário de campo referente ao dia 29-07-2010.

Para o Arroio de cadeirinha.

Autor: Deborah Beck

Fundo de Origem: Projeto “Habitantes do Arroio: estudo de conflitos de uso de águas urbanas, saúde pública e comunidades éticas em Porto Alegre, RS.”.

Conheci o Sr. Rodrigues através de uma indicação da professora Ana Luiza, que me instigou a conhecer este simpático senhor, antigo morador dos arredores do Arroio Dilúvio.

Ana me disse que o conheceu na portaria do Instituto de Pesquisas Hidráulicas, o IPH, um dos Institutos pertencentes a UFRGS.

Estava a pé e foi imensamente agradável minha etnografia. Fui seguindo pela estrada, cercada e serrada de arvores, fazendo um contraste com as sombras dos verdes no alto das copas.

Entrei na portaria do prédio em que ele trabalha como quem não quer nada, vi um senhor simpático andando de um lado para o outro, proativo e sorridente.

Apreensiva, fui até o bebedor e depois me dirigi a ele, perguntando se ele sabia onde eu poderia encontrar o Sr. Rodrigues. Abrindo um sorriso que por si só já me deixou a vontade, ele respondeu: sou eu mesmo. Então expliquei a ele o motivo da minha visita, falei-lhe sobre os Habitantes do Arroio e disse que minha orientadora havia me dito que ele era um antigo morador e que estava muito disposto a contar suas memórias.

O senhor José Rodrigues me contou seu pai comprou um terreno em 1949 (quando ele tinha apenas um ano) na Av. Rocio, localizada na Vila João Pessoa como na época era chamado o que hoje denominamos Partenon, mais ou menos na década de 50, quando o Arroio fazia parte das práticas cotidianas das donas de casa que lavavam ali suas roupas.

Disse-me também que nasceu com uma deficiência física, a Poliomielite muito comum na época.

A primeira vez que o senhor Rodrigues caminhou, foi aos sete anos. Até então ele vivia em uma espécie de cadeirinha de vime que sua mãe utilizava para carregá-lo de um lado a outro. Então em um lado da cintura ela carregava a bacia de roupa suja e do outro a cadeirinha de sua criança.

Quando começou a caminhar, foi conhecendo aquele Arroio e ia com o resto da gurizada tomar banho, pescar e brincar. Disse-me que ali existiam marrecões do banhado e que pode tomar banho até mais ou menos seus 14 anos, porque depois já estava demasiadamente poluído.

O senhor José Rodrigues viveu na Av. Rocio até casar, aos 22 anos, quando se mudou para outro bairro viveu oito anos e mudou-se novamente para Viamão, onde vive até hoje. Disse que ao lado de sua casa também passa um arroiozinho poluído, e mesmo tendo lixeira seus vizinhos jogam o lixo no arroio por pura falta de consciência.

Perguntei-lhe o que ele sentia vendo o Arroio de sua infância, poluído, ele disse: Da vontade de chorar, aquela sujeira lá dentro, aqueles sofás. Agente vê até que tem peixe, tem vida, mas eles saltam e morrem.

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