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quinta-feira, 22 de abril de 2010

A Natureza de dona Zenaide



A casa de Dona Zenaide é a última do morro, sua porta de entrada fica de frente para a Rua Acesso Dois, dando boas vindas aos que chegam. Quando chegamos, ela estava abaixada, vestindo uma roupa simples (de ficar em casa) e cavoucando o solo com tamanha familiaridade, que a terra em suas unhas e entre suas mãos grossas parecia ter sempre estado ali.


Cumprimentamos Dona Zenaide, madrugadeira, ela logo nos disse: “Tava pensando em vocês, será que elas não vêm hoje?”. Estamos aqui, respondeu Renata, e juntas rimos.

Indaguei o que Dona Zenaide estava fazendo e ela respondeu-me que ia pegar um “esterquinho, uma terra boa” para fertilizar um pedaço de terra em frente a sua casa, para posteriormente, quando o calor cedesse um pouco, plantar algumas mudas de alface. Dona Zenaide, preocupada em nos dar toda a atenção, quis parar de fazer as tarefas que realizava no momento em que chegamos, mas insistimos para que ela continuasse sua atividade, pois adoraríamos acompanhá-la.

Quando estávamos atrás da sua casa, perguntei se o esterco que ela iria usar para adubar a terra era da compostagem feita com o resto de seu lixo orgânico – que ficava na parte de trás da casa, rente ao muro- ela me disse que sim e nos mostrou um saco branco de esterco, que fora curtido por ela.

Dona Zenaide pegou o saco e com um pedaço de madeira que usava para pegar o esterco, começou a espalhá-lo em um pedaço do terreno da vizinha que fica rente ao seu muro.

Perguntei se ela tinha livre acesso aquele terreno e ela me disse que sim, que com o consentimento da sua vizinha, ela plantou abóbora, couve, vagens, feijão e as “pipoquinhas” que vim a descobrir serem milhos. Dona Zenaide nos mostrou tudo o que plantou: chuchu, gengibre, abobrinha, esponja vegetal e contou-nos sobre as perdas da plantação devido ao calor, sabia e pesarosa disse-nos como a “natureza anda triste”, como o clima anda mudando e que embora o mundo não acredite, ela sabe que é verdade, pois está acompanhando toda essa mudança.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Compostagem: uma interessante solução para o lixo orgânico

No Bairro Agroniomia, ao pé do Morro Santana – onde corre as águas do Arroio Dilúvio e onde desemboca um sinuoso afluente – conhcemos um surpreendente casal que vive na Rua(1). Esta família abriu as portas de sua residência e nos mostrou um pouco de suas práticas cotidianas. Segue a baixo narrativa fotográfica e um breve trecho do diário, desenvolvidos pela bolsista Renata Ribeiro, após esta saída a campo:



Dos fundos da casa de Detemar ainda era possível ouvir o barulho dos carros na Avenida Bento Gonçalves, porém agora este som era bastante leve, quase imperceptível. Os sons da água e da natureza se sobrepunham aos do trânsito.

Durante a conversa perguntei ao nosso informante como funcionava a coleta de lixo naquela região. Ele falou-nos que o caminhão sobe até o alto do morro, mas que infelizmente não há coleta seletiva. Contou-nos que mesmo a prefeitura não prestando este serviço, ele e sua esposa têm o hábito de separar o material inorgânico do orgânico. Quando este senhor nos disse que tem este costume, fiquei um pouco incrédula, pensei: “Será que não é lorota?”. Detemar, falou-nos então, que tem um minhocário, onde coloca o seu lixo orgânico para fazer a compostagem em que estes bichinhos se alimentam e crescem para depois serem realocados à horta cultivada pela família. O informante mostrou-nos a sua criação de minhocas que fica dentro de um cano de PVC repleto de compostagem protegido por um pedaço de telha, para evitar os passarinhos. Fiquei bastante surpresa ao ver tudo aquilo; contudo mesmo assim eu tinha uma “pulga atrás da orelha”, “Será que ele separa todo o lixo mesmo?”, perguntava-me. Com delicadeza pergunto a ele se é possível fotografar também o seu lixo seco. Detemar responde que sim e minhas dúvidas quase que somem. “Não dou o braço a torcer até que eu veja o prometido”.

Entramos na casa, uma residência grande em comparação às outras da região, porém simples. Passamos pela sala, logo chegando à cozinha, onde Jeneci lavava a louça. A primeira coisa que se observa é que em cima da pia havia alguns potes com cascas de alimentos e outros materiais orgânicos já separados. Naquele momento já fiquei bastante surpresa, o suficiente para anular qualquer dúvida que me restasse a respeito deste casal fazer ou não a coleta seletiva. Contudo, o mais surpreendente ainda estava por vir: eles tinham duas lixeiras uma ao lado da outra, cada uma para receber o seu respectivo lixo, orgânico e inorgânico. Seu Detemar a pedido nosso simulou o gesto de colocar na lixeira as cascas que estavam já separadas nos potes sobre pia. Fotografamos não somente as lixeiras, como também Jeneci lavando a louça e Detemar jogando o lixo fora. Durante a conversa Detemar pergunta a Jeneci: “Já colocou as garrafas para o pessoal levar?”. Ela responde que ainda não. O interlocutor contou-nos que separa as garrafas para um senhor que mora em cima do morro, e que em sua opinião, faz a coleta direitinho. “Ele mexe nas lixeiras pega o que houver e não fica bagunçando. E daí ele ganha o dinheirinho dele.” Disse Detemar.

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