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quarta-feira, 27 de maio de 2009

Sr. José - A infância na beira do riacho

Nesta postagem, nossa bolsista Renata Ribeiro apresenta trechos de seu diário da entrevista com Sr. José, realizada em 29 de abril de 2009, na qual nos contou, entre outras coisas, a sua infância no antigo riacho que cortava a Cidade Baixa, ligando a Ipiranga à Ponte de Pedra, no Centro da cidade.


Essa entrevista com Seu José tem como objetivo, o resgate de uma realidade vivenciada por ele em seu passado. Fatos, imagens, lembranças que marcaram, não somente
a sua vida, mas também a história de Porto Alegre. Por conseguinte, esta é a busca do devaneio de um homem que vivenciou parte da existência do antigo riacho. Por meio de palavras tento reviver algumas de suas recordações, do passado do riacho, nos parágrafos seguintes.

Chegamos à rua onde Seu José reside (Travessa Pesqueiro) próximo às 10 horas, a fim de realizarmos a entrevista previamente agendada. Ao chegarmos lá, os Professores Ana Luiza, Rafael e Viviane bem como minha colega Luna e eu, Renata, fomos em direção a pequena casa de seu José – onde fomos recepcionados por sua esposa. Após os cumprimentos e apresentações, decidimos realizar a entrevista em uma pequena sala de jantar. Seu José sentou-se em uma cadeira em frente à janela, pois acreditávamos que a luz da rua poderia ser aproveitada para iluminar a filmagem. Posicionamo-nos próximos uns aos outros, em frente ao entrevistado. Professor Rafael estava com a câmera de vídeo, a Professora Viviane com o equipamento de som, a Professora Ana Luiza e Luna faziam a entrevista e eu auxiliando a todos no que precisassem.

A Professora Ana, se não me engano, foi quem pediu para que Seu José se apresentasse em frente à câmera. Ele então começou falando que se chamava José Antônio da Silva Vieira, que tinha 67 anos, quatro filhos e oito netos. Em seguida, a Professora Ana perguntou-lhe a respeito de suas experiências marcantes em relação ao riacho. Ele respondeu que pescava naquelas águas e que sobre um tronco, ele e os amigos se divertiam atravessando o riacho. Brincavam de tocar pedras uns nos outros, separados pelo riacho. Além disso, muitas vezes ele e os amigos aguardavam os canoeiros passarem, jogando frutas para os que se encontravam em suas margens. Ainda recordou-se dos grandes barcos de carvão que passavam pelo arroio em direção ao gasômetro. O entrevistado falou-nos também do percurso do riacho. Disse que ele passava pela Ilhota, entrava na Rua Getúlio Vargas e desaguava no “Pão dos Pobres”. Contou-nos por diversas vezes que esta era uma época muito boa.
Seu José relembrou também dos tanques, os “cabungos”, que existiam em frente às casas, que acumulavam o esgoto doméstico e eram levados pela prefeitura para a “Ponta do Asseio”, na beira do Lago Guaíba. Falou-nos ainda sobre a canalização do antigo riacho, relatando que este procedimento ocorreu quando ele tinha aproximadamente 10 anos de idade. Contou-nos que ele e os amigos tinham medo de brincar em meio à obra, pois os operários os amedrontavam, dizendo que quando eles abrissem a passagem da água, quem estivesse no canal do arroio, poderia morrer afogado. Falou-nos também que antes desta obra de engenharia, não ocorriam muitas enchentes, mas que posteriormente estas foram inúmeras. Motivo que levou diversos moradores a se mudarem da região. Contou-nos ainda sobre um incêndio que destruiu antigas casinhas de madeira que havia no lugar das atuais que se encontram no pátio de Seu José. Relatou que esta calamidade aconteceu na véspera de Natal de 1978 e que o fogo alcançou quase até a esquina de sua rua, onde existi um prédio. Recordou-se também das rixas “de guris” entre os moradores do Areal e da Ilhota.

Convidamos Seu José para ir até a rua nos mostrar a região. Nosso objetivo era resgatar parte da memória daquele local por meio das lembranças de um tempo já vivenciado por ele. Ao sairmos para a rua, nos deparamos imediatamente com o compadre de Seu José. Ele mostrou-se extremamente simpático e feliz com a realização do nosso Projeto Habitantes do Arroio. A sensação que eu tive, foi que o projeto significa para Seu Marco Antonio uma forma de buscar no passado a sua própria história. Mostrou sentir-se valorizado por estarmos em busca desses fatos vividos, no passado, por eles e que hoje são apenas suas recordações, mas que para nós agora, significam a memória ambiental da cidade.

Seu Marco Antonio apontou-nos sua residência que fica no mesmo terreno de uma casa do ano de 1915, que aluga para um ferreiro. Esta antiga residência de tom rosa com janelas e portas cor vinho, segundo Seu Marco Antonio, é alugada para este senhor há aproximadamente 30 anos. Contou-nos também que durante uma enchente, um parente seu teve que sair de dentro de casa numa canoa. Relembrou que a rua hoje toda de paralelepípedos, no passado era de chão batido. Durante a conversa, por inúmeras vezes, Seu Marco Antonio exaltou a bondade de seu amigo José que costumava levar para dentro da sua própria casa, pessoas desabrigadas. Não somente isso, assim como seu amigo, ele comentou que os dois eram os mais antigos moradores do local. Lembrou-se do irmão mais velho de Seu José, que já morrera, e que foi uma grande referência para os dois.

Seu Marco Antonio por diversas vezes me pareceu bastante emocionado e agradecido, por ter a oportunidade de narrar sua vida, que faz parte da história do velho riacho, que teve suas águas domadas por encanamentos. Contou-nos ter uma pequena foto pessoal do riacho, passando atrás de sua casa. Os dois amigos também nos mostram o terreno onde morava a mãe do futebolista Tesourinha onde se avistava apenas um matagal e o esqueleto de uma antiga casa. Em seguida, sugerimos a realização de uma nova entrevista com ele em outro momento, para que pudesse compartilhar conosco um pouco mais de suas lembranças.

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