A paisagem do Arroio Dilúvio não é apenas um elemento “natural” da morfologia dos morros e vales de Porto Alegre. O arroio não é, tampouco, um canal artificial irremediavelmente degradado pela vida urbana. Sua paisagem possui muitas camadas de sentido, é possível conhecê-la de muitas maneiras, dependendo do olhar que lhe dirigimos, dos gestos que praticamos às suas margens, da escuta que lhe dedicamos, de como percebemos sua presença em nosso cotidiano.
“… o animal também não deixa de superar distâncias, e sempre do modo mais hábil e mais complexo, mas ele não faz ligação entre o começo e o fim do percurso, ele não opera o milagre do caminho… É com a construção da ponte que esta prestação atinge o seu ponto máximo. Aqui parecem se opor à vontade humana de juntar espaços não só a resistência passiva da exterioridade espacial mas a resistência ativa de uma configuração particular. Superado o obstáculo, a ponte simboliza a extensão da nossa esfera volitiva no espaço. Para nós, e só para nós, as margens do rio não são apenas exteriores uma à outra, mas ‘separada’; e a noção de separação estaria despojada de sentido se não houvéssemos começado por uni-las, nos nossos pensamentos finalizados, nas nossas necessidades, na nossa imaginação.”
Georg Simmel: “A Ponte e a Porta”, in REVISTA POLÍTICA & TRABALHO, João Pessoa, n°12, 1996. p. 10 a 14. Disponível online em:
http://www.cchla.ufpb.br/ppgs/politica/index12.html
Aqui no blog é possível encontrar diferentes composições, expressas nas lembranças de antigos moradores, nos projetos de técnicos, nos impasses de diferentes realidades dos bairros da cidade. Mas também ensaiamos, a partir da captação de imagens nas margens do arroio, e na montagem de pequenas seqüências de imagens, esses olhares e escutas da paisagem: de dentro do arroio, a partir da avenida, em meio aos cruzamentos, do topo de edifícios, sobre as pontes, de baixo das pontes, a pé, de carroça, de carro, de barco. O ritmo das imagens (cortes, movimentos) evoca diferentes usos (contemplação, esgoto, lazer, trabalho). Os caminhos e as correntezas das águas e do trânsito que convergem na Avenida Ipiranga, na sua paisagem sonora.
Envie para o blog do Habitantes do Arroio algumas composições (em foto, vídeo, texto, desenho, som) que gostaria de compartilhar. Envie um email para habitantesdoarroio.leitor@blogger.com e faça circular as suas imagens.
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