[...] volta e meia o Guaíba saía do seu leito e inundava ruas, praças e avenidas que nunca sonharam em tomar banho de enxurrada.
Para por cobro a essa impertinente mania do rio, o Governo do Estado passou a estudar a possibilidade de detê-lo com um grande e monumental cais. E assim Borges de Medeiros, em meados de 1911, iniciou esse porto que hoje temos. Não há dúvida que o velho e manhoso rio deve ter mordido o freio quando viu chegar esses enormes blocos de pedra para conter-lhe as águas. Estava muito acostumado a espreguiçar-se despreocupadamente. Imagine-se apenas que suas margens ordinárias vinham aí pela praça da Alfândega, fundos do Palácio Municipal, e uma boa parte da rua que ainda hoje tem um nome que o lembra – Rua da Praia!
Mais tarde outros aterros foram feitos e construíu-se o cais Marcílio Dias. E ainda há pouco, no governo Brizola, criou-se mesmo um bairro inteiro – Praia de Belas -, com terras do fundo do rio, a despeito do rio, diminuindo o rio, encurtando seu leito e beleza..
Menor, dentro dos seus limites que cada vez mais se estreitam, o Guaíba pouco a pouco vai sentindo a civilizadora mão do homem[...]
O velho Riacho do Sabão, também conhecido como Arroio Dilúvio, o mais grosso braço esquerdo do rio, agora está saneadoramente retificado, deixou de malandrear nessa baixada entre o antigo morro da Praia e o necropólico morro da Azenha, e perdeu a sua infatigável mania de assustar os velhos bairros da cidade com suas enxurradas e inundações.
Nem mais se vê aquele indefectível exército de lavadeiras às suas margens, negras novas ou idosas, que com o colorido das suas vestes davam singular e pitoresco aspecto às suas águas barrentas.
Fonte: Editora Movimento/Instituto Estadual do Livro.
Autor: Ary Veiga Sanhudo
Data: 1975
Antigo riacho passando atrás da Rua da Margem (atual João Alfredo)
Fonte: Museu Joaquim José Felizardo
Barcos de pescadores na margem do antigo Riacho
Fonte: Museu Joaquim José Felizardo
Nenhum comentário:
Postar um comentário