O rio estava em seu lugar, como manda o figurino. Eis senão quando a cidade resolveu invadi-lo, na base do fato consumado, isto é, sem aviso prévio, nem indenização por tempo de serviço. Começaram, então, os intempestivos e abusivos aterros, ou seja, a ocupação do rio, a mão armada, pela cidade. Não tendo como defender-se, na medida das agressões de que passou a ser vitima, desde o inicio do século, o rio vem conseguindo, a muito custo, promover algumas enchentes, nem sempre com resultados satisfatórios, a não ser em 1941, quando teve ensejo, ninguém sabe por que cargas d’água, de providenciar numa inundação quase diluviana. [...]O Imperialismo da cidade, no engolimento do rio, só encontra paralelo nas antigas conquistas da Grã-Bretanha [...]
A idéia de Loureiro da Silva era apenas fazer uma avenida ao longo da margem do rio, para facilitar o trânsito e valorizar a zona sul, como área residencial, conservando-se assim, a então maravilhosa enseada, com o esmerado lavor que Deus lhe dera, sobretudo desde o Cristal até a outrora donairosa Praia de Belas.
Terminaram fazendo um aterro “holandês”, o que corresponde a uma caríssima, antinatural e inflacionária “fabricação” de terra firme, em prejuízo do rio e, principalmente, da paisagem, isto num lugar em que pode faltar tudo, menos terra.
Fonte: Porto Alegre, Editora do Globo, pp.12-13.
Título do documento: Barco de Papel
Autor: Carlos Reverbel
Data: 1979
Praça da Alfandega na enchente de 1941
Fonte: Museu de Comunicação Hipólito da Costa
Aterro e contrução da Avenida Praia de Belas
Fonte: Museu de Comunicação Hipólito da Costa
Nenhum comentário:
Postar um comentário